Escritos de Afeto

pois afetar e ser afetado é o que nos resta

Month: January, 2024

Unhas

Me é urgente
Mantê-las desmanteladas
Manutenção do aniquilamento

Aprendi que são anexos
Portanto como-as inúteis
Por beiradas fossem prato quente

Devoro-as em distúrbio
Assim como alimento-me ao cúmulo
Acumulo angústia e ânsia na compulsão
Que expele ansiedade, desejo e fome

Meu banquete é queratina
Quero de mim pedaços
Daquilo que deixa de ser eu
A partir de quando se encontra
Entre meus dentes

Mastigo-as mal
Mal engulo e quero mais
Como se faminto pelo vazio
De dentro

Indícios

Hoje
Persegui tempestade

Na viagem ao Rio
Encontrei restos de chuva
Umidades de vegetação
Excessos de rio em borda
Mas não me molhei

Pelo caminho
Asfalto negro em água
Ar-líquido cujo toque pesa
Penugem-gotas sobre pelos
Céu à frente sempre plúmbeo
Mas não me molhei

A tempestade foge
Encerra em si sol e luz
E se esbalda em serra alta
Para jorrar-se imensa na travessia
Em que pisam meus pés secos

Sigo-a assim
Não ouço trovões
Nem vejo relâmpagos